Vida, sonhos e lutas é um ensaio de
história política de Sergipe, de autoria do escritor Tertuliano Azevedo, com
151 páginas e sob os selos da Editora J. Andrade e do Instituto Banese.
Tertuliano,
advogado, político e conselheiro da Corte de Contas do Estado, marcou, com
letras lapidares, a sua trajetória de vida na advocacia, na política e nos seus
magistrais votos pronunciados no colegiado responsável pelo controle da
Administração Pública, sempre combatendo a corrupção e os desmandos dos
gestores públicos.
Na
abertura do seu livro, o autor reúne uma variedade de depoimentos colhidos de
colegas e de personalidades da vida política
sergipana de todos os matizes partidários, com quem ele partilhou o seu
trabalho e as suas experiências profissionais, na incessante busca do bem estar
social, valendo destacar os pronunciamentos de Carlos Pina de Assis, Presidente
do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe; de Benedito Figueiredo, Secretário
da Justiça e da Cidadania; de Antonio Carlos Valadares, Senador; de Reinaldo Moura, Conselheiro; de
João Augusto Gama da Silva, Secretário de Estado do Planejamento, Orçamento e
Gestão; de Manoel Pacheco, economista e professor da Universidade Federal de
Sergipe; do saudoso governador Marcelo Deda; de Eduardo Amorim, Senador; de
João Alves Filho, Prefeito de Aracaju; de Albano Franco, líder político e
agente cultural e de José Carlos Machado, Vice-prefeito de Aracaju. Todos, à
unanimidade, ressaltaram os valores de Tertuliano Azevedo, desde a sua
militância na política estudantil até a sua postura de magistrado.
No
prefácio do livro Tertuliano: vida,
sonhos e lutas, a sua filha Sônia Maria Azevedo Prudente destaca a obra
literária e o seu autor, principalmente. Nas suas apreciações, ela mostra um
Tertuliano ativo e participante dos principais episódios da vida política
brasileira e os seus reflexos em Sergipe. Além disso, destaca a sua
sensibilidade às causas das desigualdades sociais, fazendo-o um defensor de
“uma sociedade mais justa e digna de se viver”. Narra, ainda, os seus valores
como líder estudantil, sempre na defesa dos princípios éticos, centrados na
defesa dos interesses nacionais, levando a sua voz tanto em comícios
relâmpagos, ainda na adolescência e na juventude, assim como nos seminários
políticos e na Câmara dos Deputados, representando o povo sergipano, naquela
casa congressual. Refere-se, também, à postura do Tertuliano como um pai de
família afável, polido e amante da sua prole, cujo caráter serve de exemplo
para os seus entes queridos e para a sociedade.
O
autor introduz o leitor descrevendo as suas vivencias desde Neopolis, o seu
torrão natal, com incursões nas prosperas cidades de Penedo, em Alagoas, e
Propriá, pelo lado sergipano, ambas banhadas e acalentadas pelas águas do Rio
São Francisco. Para ele, a cidade de Propriá apresentava uma maior concentração
de recursos econômicos devido à industria têxtil e ao comercio, que atendia aos
ribeirinhos, tanto os do lado sergipano, como os do lado alagoano, inclusive de
Penedo, cuja população acorria à feira de Propriá, que se realizava nas
sextas-feiras e no sábado. Além de Penedo e Propriá, que despontavam como pólos
econômicos, Tertuliano conta no seu
livro de memórias que em Neopólis havia também, um pequeno parque industrial
têxtil, representado pela Fábrica de Tecidos Peixoto Gonçalves e Cia,
localizada na Passagem, pertencente ao empresário português Manoel Gonçalves e
sucedido por José da Silva Peixoto e a Fábrica de Tecidos Têxtil, um consorcio
de empresários alagoanos e paulistas, que cerrou as suas portas devido a
divergências entre os seus sócios. Nota-se, ainda, uma concentração de renda representada pela industrialização e
beneficiamento do algodão e do arroz, culturas que dominavam o Baixo São
Francisco.
Nas
páginas do seu ensaio memorialista e autobiográfico, Tertuliano Azevedo traz a
lume a árvore genealógica da sua família e os seus laços de parentesco com o
professor estanciano Bricio Maurício de Azevedo Cardoso (1844-1924), patrono da
Cadeira nº 36, da Academia Sergipana de Letras e pai de Maurício Graccho
Cardoso, deputado, senador e governador de Sergipe e do também, acadêmico e
jurista Hunald Santaflor Cardoso, fundador da referida cadeira, no Sodalício
sergipano.
O
ensaio Tertuliano: vida, sonhos e lutas reflete
representações de antropologia cultural, com o inter-relacionamento humano
entre o passado e o presente. Nele, autor focaliza a sua formação educacional em
Aracaju, no Colégio Tobias Barreto, no tempo do Professor
José de Alencar Cardoso, mais conhecido como professor Zezinho Cardoso, um dos ícones da
educação em Sergipe. Na linha do seu pensamento, Tertuliano faz abordagens ao
seu engajamento nas instituições políticas estudantis do Colégio Atheneu
Sergipense, concentrando-se na defesa das instituições nacionais e abraçando a “Campanha
o Petróleo é Nosso”, que resultou vitoriosa, com a criação da Petrobras. Ainda
como estudante, fundou a Ala Estudantil da Esquerda Democrática, que se
transformou depois no Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderado em Sergipe
pelo jornalista Orlando Dantas. Além dessa página, Tertuliano volta o seu olhar
para a cidade de Aracaju, destacando a sua população, inclusive todos os
excluídos da sociedade. Mostra a sociabilidade das ruas aracajuanas, o seu casario, os bairros e até, um relato
sobre a Feirinha de Natal, no Parque Teófilo Dantas, com o romantismo dos anos
de 1950.
Na
advocacia, Tertuliano Azevedo, abraçou o segmento do Direito Trabalhista,
sempre defendendo os empregados e os sindicatos de trabalhadores, o que lhe
conferiu uma liderança nesse segmento social. Nas referencias a sua militância
política na esquerda, o autor do ensaio,
Tertuliano: vida, sonhos e lutas, enfatiza os movimentos para construção da candidatura de João
de Seixas Dória ao cargo de governador
de Sergipe, em 1962, até à sua deposição, em 1º de abril de 1964, por
representantes do Movimento Militar, em Sergipe. Ele relata, com minudencias, a
sua prisão de natureza política, no início do mês de abril daquele ano, como,
também, outras prisões de militantes da esquerda em Sergipe, a exemplo da que
sofreu ilegalmente, o professor Ariosvaldo Figueiredo, o advogado José Rosa de
Oliveira Neto, o prefeito de Propriá Geraldo Maia e o seu irmão, o deputado
Cleto Maia; foram presos, também, os deputados Viana de Assis e Nivaldo Santos,
estudantes, professores, lideres trabalhistas, magistrados e servidores
públicos, todos acusados de subversão à ordem pública, que só foram libertados
por força de habeas corpus e de
outras medidas judiciais.
Na sua narrativa
memorialista, Tertuliano, relata a sua filiação ao Movimento Democrático
Brasileiro em Sergipe, aliando-se ao grupo dos autênticos no enfrentamento às
repressões da Ditadura Militar de 1964. Ideologicamente centrado nas causas populares, elege-se deputado federal em 1978,
com 16.772 votos, formando com Jackson Barreto de Lima, atual governador de
Sergipe, a representação do MDB, na Câmara dos Deputados. Tentou fundar o
Partido Progressista em Sergipe, sob a orientação de Tancredo Neves. O PP não
vingou e Tertuliano aliou-se a João Alves Filho na sua trajetória ao governo de
Sergipe, em 1982. Foi Secretário da Justiça e, nessa condição, criou o
Departamento de Assistência Judiciária, órgão precursor da Defensoria Pública. Com a sua nomeação para o
cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe Tertuliano
Azevedo, encerra a sua trajetória política partidária, passando a dedicar-se à
leitura e à escrita de ensaios jurídicos, históricos e memorialistas.
O livro está ilustrado
com fotografias representativas de todos os episódios referenciados. Nessa
parte iconográfica, destacamos a primeira vinheta com fotos da família, seguida
de uma foto no Cacique Chá, onde estão Ariosvaldo Figueiredo, ao tempo
Superintendente de Reforma Agrária, em Sergipe; o autor, Tertuliano Azevedo, então
Delegado Regional do Trabalho e este escriba, à época jornalista da Gazeta de
Sergipe e Secretário de Gabinete do Prefeito de Aracaju, Godofredo Diniz
Gonçalves. Outras fotos documentam o ensaio, marcando a trajetória de vida de
Tertuliano Azevedo em diversos momentos da sua vida pública.
A escrita memorialista é o presentificar do
passado e, nisso, Tertuliano Azevedo, no seu livro, Tertuliano: vida, sonhos e lutas, soube avaliar. A relevância da produção de um ensaio dessa
estirpe para a história regional,
sobretudo, para a historiografia Sergipe, apresentando um vasto manancial de
fontes que, com metodologia apropriada, pode ser convertida em riquíssima
pesquisa sobre a memória política do nosso estado.
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