Histórias de vários
tempos – fatos e pessoas, é o livro de crônicas de crônicas
do cotidiano, de autoria do professor, magistrado e acadêmico Artur Oscar de
Oliveira Deda, com 375 páginas e editado sob o selo da Editora J. Andrade.
O
livro reúne várias histórias publicadas nas páginas do Jornal da Cidade de Aracaju, pontilhadas de narrativas de
episódios vividos pelo autor, escritas
numa linguagem coloquial que conduz o leitor a momentos memorialistas, pintando
com maestria quadros multidisciplinares de cada época, com reflexões
sobre aspectos políticos, econômicos, culturais, ambientais e de costumes. Dividiu a
sua obra literária em cinco capítulos, bem dimensionados e criteriosamente
selecionados. No primeiro, reúne de crônicas, com achegas autobiográficas e de variados
assuntos, com o conteúdo temporal bem delimitado e apreciações da sua própria
trajetória de vida. No segundo capítulo, Artur Deda, concentra a sua escrita no
cotidiano, nos fatos e nas pessoas que projetou nas suas vivências e nas suas
observações. Já no terceiro capítulo, o autor relembra pessoas e fatos que
marcaram a sua vida, familiares,
professores e amigos e outras personalidades. O autor, no capítulo quarto
dedicou as suas reminiscências nas suas viagens ao Velho Mundo e relatos culturais sobre Paris, a “Cidade Luz”,
fonte de inspiração para poetas e artistas plásticos, berço da Democracia
moderna e do Iluminismo, onde se forjaram as representações da Igualdade,
Fraternidade e Humanidade. Nesse mesmo capítulo, o autor lança os seus olhares sobre Londres,
outra capital européia que lhe impressionou tanto pela sua monumental
arquitetura, pelo paisagismo das suas praças, das suas estreitas ruas e da
imponência do Palácio de Westminister, com a sua torre relógio e o sino Big
Bem, como pela impressionante convivência das etnias. Já no quinto e último
capítulo, o cronista escreve as suas opiniões sobre as leis e considerações sobre a
independência da mulher e a evolução da família brasileira.
As
crônicas do acadêmico Artur Deda, compiladas no livro Histórias de vários tempos – fatos e
pessoas, enobrecem a literatura sergipana pelo seu conteúdo e compromisso
com a cultura; com a presentificação do passado, lembrando o que outros
esqueceram, para despertar nos jovens, as contribuições de pessoas e de fatos
que construíram a sua cidade, o seu estado e o seu país.
Aliás,
nesse sentido, Eric Hobsbawm, em seu livro Era
dos extremos, faz um alerta sobre boa parte dos jovens de hoje que crescem
numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado
público da época em que vivem.
Artur
Oscar de Oliveira Deda, ou Artur Deda, como é mais conhecido no mundo
acadêmico, é o ocupante da Cadeira Nº 28, da Academia
Sergipana de Letras, patroneada pelo Conselheiro Salustiano Orlando de Araúo Costa, mais conhecido como
Conselheiro Orlando, político e
magistrado, autor dos Comentários ao Código Comercial do Império e de inúmeros
ensaios sobre matérias voltadas para o Direito Empresarial, que o consagraram no campo das letras jurídicas. A
cadeira acadêmica ocupada pelo cronista, poeta, professor e magistrado Artur Deda, foi fundada por outro magistrado e
político, o também simão-diense,
Gervásio de Carvalho Prata, uma das personalidades do mundo jurídico sergipano dos primeiros quartéis do século XX, que legou
para os seus coestaduanos experiências
jurídicas e ensaios de geopolítica em
torno da secular questão dos limites entre os estados de Sergipe e da Bahia.
Artur
Deda tomou posse na Cadeira nº 28, em Sessão Solene da Academia Sergipana de
Letras, realizada no dia 11 de agosto de 1982, no Auditório Governador José
Rollemberg Leite do Palácio Tobias Barreto de Menezes, sede do Tribunal de
Justiça do Estado de Sergipe, em solenidade presidida pelo Acadêmico Luiz
Antônio Barreto, à qual acorreram acadêmicos, gestores públicos e da iniciativa
privada, professores, intelectuais,
estudantes e representantes da comunidade. Coube ao Acadêmico Luiz Carlos
Fontes de Alencar pronunciar o discurso de recepção, em nome do Sodalício, quando enalteceu o
novel acadêmico, ressaltando a sua postura como um intelectual comprometido com
a solidificação da cultura, em todos os seus segmentos.
Na
Academia Sergipana de Letras, o Acadêmico Artur Oscar de Oliveira Déda tem
contribuído para o desenvolvimento cultural de Sergipe, com uma obra voltada
para as letras jurídicas, para a crônica e para a poesia. Na prosa, além das crônicas e
dos ensaios jurídicos, destaca-se o seu estudo sobre o fundador da Cadeira n°
28, do Sodalício sergipano, o desembargador Gervásío de Carvalho Prata.
Nele,
Artur Deda, mostra a atuação filosófica do autor estudado, acentuando que
Gervásio Prata tinha convicções liberais e democráticas, realçando:
Na
atividade partidária proclamou sempre a autoridade da lei contra o arbítrio, e
como juiz nunca aceitou impassível "os sofismas opressores da razão de
Estado". Manifestou simpatia pelo movimento renovador de 1930, mas o
subseqüente desenrolar dos acontecimentos causou-lhe muitas apreensões, pois
rejeitava que o transitório por natureza, convertido fosse em permanente. E no
próprio recinto do Palácio do Governo, quando da visita que o Tribunal de
Apelação fez ao Interventor Federal, proclamou, sem refolhos: "As armas
traçam a vitória do mais forte, porém, uma vez alcançado o objetivo, elas
esbarram a sua marcha. O fuzil cansa nas mãos, as espadas se dobram ao peso de
si mesmas, os comandos fatigam e as tropas se exaurem de lutar. É a paz que se
procura depois das convulsões internas nos seios dos povos". Restabelecida
a paz "a força da sociedade volta a ser a do Direito e da Justiça, porque
este é o verdadeiro destino do homem. As armas tornam aos arsenais de onde
saíram, "lugar próprio delas, para a defesa do Direito e da Pátria",
pois "só é útil a revolução, que destrói para reconstruir e que cede, sem
grandes retardas, as suas conquistas ao poder legal da Nação'".
Sua
coletânea poética ainda é inédita. Todavia, muito bem se percebe sua riqueza
através de alguns sonetos já conhecidos.
SEPARAÇÃO
Por longos anos, uma vida inteira,
Ficamos juntos, sem que houvesse amor;
Unidos simplesmente por cegueira,
Tu me causavas mal com o teu calor
Porém, como houve, um dia, a vez
primeira,
Eu quis que houvesse . e o fiz com
destemor,
A vez final, extrema, derradeira,
E a meta conquistei, posto com dor.
Estamos separados, nunca mais
Meus lábios tocarão teu corpo quente.
Foram rompidos elos da corrente.
Os males que fizeste são demais:
A tosse renitente, este pigarro,
Quem deixa por lembrança és tu, cigarro.
VISÃO NOSTÁLGICA
Cadeira balançada pelo vento.
Imagem de profunda nostalgia
Que dor no coração vê-la vazia
Reflui todo passado ao pensamento
Tua lida consumou-se num momento.
Quando, querida mãe, partiste um dia,
Depois de suportar lenta agonia.
Neste enganoso mundo de tormento.
Cansado de chorar tento dormir.
Ouço a voz dos meus filhos a pedir:
- Conte mais lima história. vovozinha!
Acordo, abrindo os olhos, bruscamente.
Caio num pranto infindo, compungente,
Vendo a cadeira a balançar, sozinha.
QUAL É A COR DOS MEUS OLHOS?
(Paródia
ao poema "Qual é a cor dos meus olhos", de José Amado Nascimento)
Ó mares encapelados
Agitados, encrespados .
Ò verdes mares bravios .
Sorvedouros de navios,
Mares cheios de abrolhos:
Qual é a cor dos meus olhos?
Estrelas, casebres, rios,
Terminai meus desvarios,
Dando resposta segura
A questão que me tortura
Respondei-me sem refolhos:
Qual é a cor dos meus olhos?
No limiar dos trint’anos
Não posso ter desenganos
Sofrer tantos dissabores.
São brancos ou furta-cores?
Afastados os escolhos:
Qual é a cor dos meus olhos?
Homens mulheres, meninos,
Ricos, médios, "severinos":
Palhaços da corda bamba,
Baianas dançando samba,
Com saías de muitos folhos.
Qual é a cor dos meus olhos?
Depois de tanto pedido,
Já quase desiludido,
Ouço uma voz a dizer
Que existe um meio de ver
O caso solucionado:
"Pergunte a José Amado."
A
escrita de Artur Oscar de Oliveira Deda aqui sucintamente referenciada enaltece
a Academia Sergipana de Letras, que se
rejubila com a sua atuação acadêmica na prosa, na poesia, no magistério e nas
conferências pronunciadas no campo do Direito, dignificando o Sodalício e os
sergipanos pela sua postura como um dos defensores do Estado Democrático de Direito
que prima pela dignidade da pessoa humana.
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