O Parque era uma área
ecológica e urbanisticamente preservada, pois, normas municipais proibiam até
as pessoas espocarem foguetes nos dias
festivos, para que não fossem danificados os globos de vidro da iluminação
pública e outros equipamentos, segundo a previsão do Edital Nº 5, publicado no
Diário Oficial do Estado, edição do dia 20 de agosto de 1928.
Outra providencia com vistas à manutenção das árvores em
crescimento e ao aformoseamento dos jardins que decoravam as suas alamedas, foi
a transferência da Feirinha de Natal para a Praça Pinheiro Machado, atual Praça
Tobias Barreto, na Zona Sul da Cidade, o que aconteceu em decorrência do Edital
Nº 49, publicado na edição de 18 de dezembro de 1929, no Diário Oficial do
Estado, que também, publicava os atos municipais.
Então, na Praça Pinheiro Machado, logradouro aracajuano que
homenageava José Gomes Pinheiro Machado
(1851-1915), o político gaúcho mais influente da República Velha (1889-1930), –passaram
a ser realizadas, por uns vinte anos, as festas de Natal, Ano Bom e Reis, que
ficaram imortalizadas nas páginas do livro Roteiro de Aracaju, de autoria do
poeta, cronista, romancista, jurista, professor e acadêmico Mário de Araújo
Cabral, um dos fundadores da Academia Sergipana de Letras.
Mas, nos anos de 1950, a Feirinha de Natal voltou a pontificar
no Parque Teófilo Dantas, concentrando nesse espaço público da cidade, total
congraçamento religioso e profano da cidade. Nessa época, o ciclo natalino, iniciava-se,
invariavelmente, no dia 8 de dezembro, logo após a procissão de Nossa Senhora
da Conceição, encerrando-se no dia 6 de janeiro, data dedicada aos Reis Magos,
na tradição cristã.
Durante esse período eram instalados os equipamentos de lazer
para a alegria do povo. Um dos que mais atraíam a criançada era o Carrossel de
Seu Tobias, capitaneado por um boneco negro, que tocava um realejo e com
efeitos mecânicos, movimentava a sua cabeça. O realejo foi substituído por um
estridente apito, que era ouvido a alguns quarteirões, pois à época não havia
poluição sonora. Este Carrossel era um produto norte americano, fabricado em
North Tonawanda, cidade do estado de Nova York e classificado como equipamento
de entretenimento, já conhecido dos sergipanos desde 1904, porém, só depois de
1958, quando passou a pertencer ao Vereador Milton Santos, consolidou-se como
garantia das festas do Natal de Aracaju. Era instalado no lado direito da
Catedral Nossa Senhora da Conceição e composto com parelhas de cavalos de
madeira, pintados com tinta a óleo, à semelhança das cores dos eqüinos
(tordilho, ruço, preto, alasão, castanho), encilhados e, também, movimentados mecanicamente, como se
estivessem a galope. Era a sensação de
crianças e adultos, que ainda se aboletavam nas confortáveis poltronas, a
rodopiar numa plataforma sobre trilhos e alaridos festivos, que só cessavam
quando eram iniciados os ofícios religiosos. No mesmo lado, havia outros brinquedos,
tipo Avião, Sombrinha, Barcos que eram verdadeiros balanços, puxados com
cordas, além da Onda de madeira. Em frente a esses equipamentos havia um balcão
de madeira revestido com folha de flandre, onde estava a banca de Seu João do
Cachorro Quente, o sanduíche mais famoso do Parque, cozinhado numa panela de
alumínio reluzente, cujo aroma da iguaria invadia o ambiente, atraindo os seus
consumidores. Entre um Cachorro Quente e outro, os mais gulosos ainda
degustavam pipocas.
Em frente à Igreja, descortinava-se um corredor, a que o povo
chamava de Quem me quer, pelo fato de que as adolescentes ficavam prá lá e prá
cá, exibindo-se para a rapaziada, que se concentrava, praticamente, no entorno
da estátua do Monsenhor Olímpio Campos.
A cada lado desse corredor, algumas famílias burguesas colocavam bancos de
madeira com os seus respectivos nomes, e até poltronas, para acompanharem as
suas filhas, tempo em que, as mulheres
tinham uma oportunidade de ficarem tricotando a vida alheia. Nas imediações desse espaço eram
instalados bares com mesas e cadeiras, tanto em frente à Escola Normal, hoje
Centro de Turismo, como na parte
superior do antigo Aquário, atual Galeria de Artes Álvaro Santos e na parte
fronteiriça da Prefeitura e do Palácio Episcopal, destacando-se, pela fidalguia
no trato com os seus clientes, o Bar do Cotinguiba Sport Clube, gerenciado por
Roger Torres de Oliveira.
No outro lado da Igreja, ou seja, no lado esquerdo desse
monumento histórico, encontrávamos a
Roda Gigante, os tabuleiros de arroz doce, de confeitos de castanha e de
amendoins acondicionados nos barquinhos de papel de seda, de roletes de cana,
de maçã do amor, de cavaco chinês, além do vendedor de balões (bexigas) com o seu cilindro de gás
hélio, que deslumbrava meninos e meninas. Misturados a tudo isso, havia também as
barracas para as pescarias, de tiro ao alvo, de argolas e as bancas de jogo,
tipo barrufo, pio (dados), jogo do bicho e, mais ao fundo, roletas. O jogo de
azar era livre, apesar da sua proibição por força do Decreto-Lei 9.215, de 30
de abril de 1946, assinado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra. Nessa mesma
área havia um palanque para a apresentação de folguedos folclóricos, entre os
quais se destacavam a Zabumba de Quemdera, o Reisado de Piliu, a Chegança de Zé
do Pão e o Guerreiro de Mestre Euclides. Ali também estavam instaladas as
toscas barracas de pano, que formava um
conjunto de bares e de pequenos restaurantes, popularmente chamado de Egito.
Nos bares do Egito eram servidos apetitosos pratos típicos,
entre os quais caruru, sarapatel, sopa de mão de vaca, pirão de mocotó, carne
de porco frita, com fígado e rins de boi, feijoada, galinha cozida (kitchen) e
galinha ao molho pardo, tudo regado a cerveja e cachaça, em especial a Guiamum,
Paraty, Fogosa, John Bull, entre outras marcas. Esses estabelecimentos pertenciam
a pequenos empresários, geralmente da periferia, da Caixa d’Água, da Suissa e
de outros lugares afastados, cujas famílias de baixa renda se mudavam para o
Parque nesses dias festivos. Naquelas barracas, alimentos, gente dormindo,
barricão com cerveja gelando com pedaços de barra de gelo enrolados em jornais
velhos acondicionados com pó de serra e sal grosso, já que não havia geladeira,
nem freezer, compunham o ambiente e a sua higienização. Os pratos eram de
ágata, alguns dos quais já com as beiras sem esmalte; os copos de vidro, tipo
americano, eram lavados nas bacias de alumínio, tudo para atender à clientela
composta de notívagos e de jogadores das roletas, que, entre uma aposta e
outra, degustavam esses deliciosos acepipes, até alta madrugada.
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