A escritora, poeta,
professora e acadêmica Maria Ligia Madureira Pina, falecida em 14 de agosto de
2014, era uma ilustre sergipana que se dedicou ao ensino e às letras, tanto na
composição de belíssimos poemas, como na escrita de ensaios historiográficos e
de crônicas. Filha de Affonso Pinna e de D. Alexandrina Madureira Pina, Lígia
Pina, como era mais conhecida no meio acadêmico, nasceu em Aracaju, Sergipe, a 30 de setembro
de 1925. Fez as primeiras letras com a Professora Carlota Sales de Campos, no
Colégio Frei Santa Cecília, em Aracaju, transferindo-se depois, para o Grupo
Escolar Manuel Luiz e, em seguida, para o Colégio Nossa Senhora de Lourdes,
onde concluiu o curso primário. Cursou o
secundário no Instituto de Educação Rui Barbosa, quando iniciou com as suas
atividades literárias, muito incentivada pelas professoras Maria Conceição Melo
Costa, Julia Teles e Dalva Costa.
Já professora, graduada pela Escola Normal, tentou fugir do
magistério, para atuar como comerciária, na firma Cabral Machado & Cia.,
tentativa esta frustrada diante da sua vocação pelo magistério, principalmente
porque havia conquistado no curso do Instituto de Educação Rui Barbosa, um
amadurecimento social e cultural, capaz de transmitir aos adolescentes
aracajuanos, os conhecimentos obtidos naquela modelar instituição de ensino
público, formadora de uma plêiade de profissionais do ensino, que se destacaram
no cenário educacional do Brasil.
No curso
superior, muito incentivada pelos professores José Silvério Leite Fontes, Maria
Thetis Nunes, Josefina Leite, Lucilo Costa Pinto, Felte Bezerra, Gonçalo
Rollemberg Leite e D. Luciano Cabral Duarte, Lígia Pina dedicou-se ao estudo da
Filosofia, da Antropologia, da Sociologia, da Geografia, da Literatura e,
principalmente da História, dando início, assim, aos ensaios publicados nesse
campo, além de outras pesquisas com o foco na Pedagogia.
Graduada em
História e Geografia, na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, firmou-se
no magistério, por mais de três décadas, lecionando aulas de História,
Geografia e Sociologia, com atuação, desde 1959, em colégios da capital
sergipana, entre eles o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, o Instituto de
Educação Rui Barbosa, o Colégio de
Aplicação da Universidade Federal de Sergipe; e, também, no Colégio Estadual de
Sergipe e no Colégio Tobias Barreto.
No decorrer da
sua carreira no magistério estadual, a intelectual
que subitamente nos deixou,
transferindo-se deste Oriente para o Oriente Eterno, participou de vários eventos educacionais, tanto
no Brasil, como no exterior, valendo destacar as suas experiências
internacionais no Curso de Sistemas Educacionais a que frequentou em Israel, no
ano de 1989.
Paralelamente à
sua atividade no magistério, Lígia Pina, muito produziu textos literários e trabalhos didáticos para a orientação de
adolescentes, como: As Riquezas do Brasil, em 1969; O Poema Histórico da Ordem
Sacramentina, em 1970; O Viajante do Tempo, em 1977; o
Ponto Ômega, 1979; Patrícios
e Plebeus, entre outros, que tiveram grande repercussão nos meios educacionais
do Estado de Sergipe.
Ao lado de tudo
isso, a intelectual aqui referenciada, no seu livro de poemas Flagrando Vida,
publicado pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, em 1983, demonstrou
os seus pendores literários, despertando o sentimento do belo. De igual forma,
no seu livro Satélite Espião, produziu
poemas com extrema qualidade lírica.
Mas, foi na prosa,
especialmente no livro A Mulher na História,
que a acadêmica Maria Lígia
Madureira Pina veio a se notabilizar, no cenário intelectual de Sergipe.
A Mulher na
História é um repositório de preciosas e importantes
informações, pois adotando o
método de pesquisa bibliográfico, com algumas incursões no método empírico, ela
narra toda a trajetória da mulher, desde a mais longínqua Antiguidade até aos
dias atuais.
Nesse livro,
começa por analisar as origens da discriminação da mulher, a partir da função
biológica, própria do sexo feminino; dos tabus que passaram de geração a
geração e a sua segregação bíblica. Mostra, ainda, a submissão da mulher na
Antiguidade Clássica, sob o regime do patriarcado, quando era submetida a uma capitis iminutio perpétua: o marido
podia repudiar a mulher; era legal a subordinação total da mulher à autoridade
marital.
Ao recebê-la na
Academia Sergipana de Letras, quando tomou posse na Cadeira número 27, numa
memorável sessão acontecida em 13 de maio de 1998, concentramo-nos na análise do
seu livro, A Mulher na História, que apresenta um elenco importantíssimo das
representantes do sexo feminino, em todas as áreas do conhecimento humano,
valendo destacar Rosa de Luxemburgo, líder socialista e uma das grandes expressões
da Economia Política; Simone de Beauvoir, romancista e feminista, autora do
livro O Segundo Sexo, que trata da emancipação feminina; Coco Chanel, que
revolucionou o mundo da moda; Agatha Christie, romancista mundialmente
conhecida; Virgínia Wolf, escritora que introduziu o romance psicológico e
lutou contra os padrões literários da Era Vitoriana; Dolores Ibárruri (La
Passionara), líder operária espanhola, que lutou contra a opressão do
Generalíssimo Francisco Franco; Golda Meir, fundadora do Estado de Israel e
Madre Tereza de Calcutá, que dispensa comentários, diante da sua trajetória em
benefício dos menos afortunados.
A Lígia Pina, na
sua obra literária, exibe-nos um formidável painel das mulheres que se projetaram
no balé, no teatro, no cinema, nas artes, e focaliza as mulheres brasileiras
que tiveram uma maior participação na política, na literatura, a música, nas
artes plásticas, na aviação, na filantropia e beneficência, exemplo de Maria
Quitéria de Jesus Medeiros, Joana Angélica de Jesus, Ana Néri, Anita Garibaldi,
Princesa Isabel, Cecília Meireles, Raquel de Queiroz, Dinah Silveira de
Oueiroz, Cora Coralina, Madalena Tagliaferro, Bidu Sayão, Chiquinha Gonzaga,
Alice Tibiriçá, Tarcila do Amaral, Carmem Miranda, Anésia Pinheiro Machado,
Irmã Dulce.
Na sua
escorreita escrita, a professora Lígia Pina
dedicou um especial capítulo à mulher sergipana, dando ênfase especial
às educadoras laranjeirenses Possidônia Bragança e Zizinha Guimarães. Ressalta
a atuação das intelectuais Etelvina Amália de Siqueira, Leonor Teles de Menezes
e Cezartina Régis, ex-alunas da Escola Normal e pioneiras do Movimento Cultural
Feminino, em Sergipe.
Nesse mesmo sentido,
a acadêmica Maria Lígia Madureira Pina, abriu páginas indeléveis fincando a
participação de Quintina Diniz de Oliveira Ribeiro, professora e política; da
jurista Maria Rita Soares de Andrade e da poetisa Carlota Sales de Campos.
Genésia Fontes
(D. Bebé), na filantropia; Flora do Prado Maia, no romance; Leyda Regis, na
contabilidade, Rosa Faria nas artes plásticas e Yvone Mendonça e Celina de
Oliveira Lima, no magistério, receberam especial registro no livro A Mulher na
História.
No destaque final
da sua obra, Lígia Pina dedicou-se ao estudo da vida e da obra das acadêmicas
Ofenísia Freire, Maria Thetis Nunes, Núbia Marques, Carmelita Pinto Fontes e
Gizelda Morais, escritoras, cientistas sociais, poetisas e romancistas, todas
elas dedicadas, também, ao magistério e responsáveis pelo desenvolvimento moral
e cultural do homem sergipano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário