O Parque Teófilo Dantas, ou simplesmente, o Parque, como o aracajuano
denomina esse espaço público, construído dentro da Praça Olímpio Campos, numa
área de 100 metros de largura, por 200 metros de comprimento, é um dos mais
importantes logradouros de Aracaju, no
centro do qual foi construída a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, atual
Catedral Metropolitana com o mesmo orago. Sua denominação foi dada pela
Resolução número 373, do Conselho Municipal de Aracaju, datada de 17 de julho de 1928, em
homenagem ao Coronel Teófilo Correia Dantas, Intendente (Prefeito) Municipal, no período
de 1927 até 1930.
O Parque foi projetado e executado
pelo arquiteto e escultor Corinto Mendonça, que introduziu no seu projeto
inicial alguns elementos decorativos da antiga Praça de Santa Maria de Belém,
no Pará, uma das zonas naturais mais frequentadas pelos habitantes da cidade de
Belém. Inaugurada no ano de 1904, se
destaca por sua frondosa vegetação e rica decoração com lagoas, ilhotas e
pontes, o que serviu de inspiração para a construção de muitas praças no
Brasil.
No Parque Teófilo Dantas foram
introduzidos vários elementos decorativos, tipo taba de índios, lago das
ninfas, cascata, o rio onde navegavam
barcos infantis, parque zoológico, aquário e parque de diversões,
alamedas e uma iluminação bem
atrativa. No decorrer do tempo, oitizeiros, tamarindeiros, jatobás, ipês e uma
vasta vegetação de espécimes da Mata Atlântica, decoraram o logradouro, que,
também abrigava pássaros exóticos, como faisões, pavões, garças, marrecos e
animais da fauna brasileira, como preguiças, cotias, macacos pregos, entre
outros, que encantavam a gurizada nos seus passeios dominicais, quando
acompanhada dos seus pais, irmãos, tios, avós e amigos, visitavam os viveiros e reservas naturais cercadas,
inclusiva a gruta da Cascatinha, localizada na extremidade noroeste do Parque,
na confluência das ruas Capela e Propriá, cuja área era dominada por onças
suçuaranas, capturadas nas matas regionais e trazidas para Aracaju.
O Parque era muito organizado, as
calçadas do seu entorno eram simétricas, com largura de 2m20cm e revestidas de “trotoir”
frisados nas cores de concreto e roxo terra, alternadamente. As áreas eram
vigiadas por guardas municipais, que marcavam a presença da autoridade pública,
coibindo os excessos sem violências, porém exercendo uma função pedagógica na
orientação dos usuários do logradouro publico, para que não danificassem os
seus equipamentos.
Outro espaço muito frequentado pelos
visitantes do Parque era o Aquário, onde
víamos peixes ornamentais de espécimes regionais e da fauna amazônica, todos
com os cuidados de servidores municipais que se envaideciam com o trabalho
executado, além de narrarem para os visitantes as origens e nomes científicos
dos peixes e plantas expostos. O Aquário, foi desativado na administração do
Prefeito José Conrado de Araújo e transformado, em 1966, na Galeria de Artes Álvaro Santos, na gestão
do seu sucessor, o Prefeito Godofredo Diniz Gonçalves, que atendeu aos reclamos
dos artistas pictóricos sergipanos, carentes de um espaço cultural, onde
pudessem expor os seus trabalhos.
Na parte central do Parque, os admiradores do Monsenhor Olímpio de
Souza Campos ergueram-lhe uma estátua em
16 de julho de 1916, homenageando-lhe como homem público e como prelado da
Igreja Católica Apostólica Romana. Já na confluência com a Travessa Benjamim
Constant e Rua Itabaianinha, foi construído o Bar e Restaurante Cacique Chá, espaço dos mais
nobres da cidade na glamorosa década de 1950. Nesses Anos Dourados, realizavam-se
banquetes e festas das mais variadas no Cacique Chá, especialmente na gerência do
fotógrafo Artur Costa. Este, por motivos de saúde, que foi sucedido por Manoel
Felizardo do Nascimento, mais conhecido como Pirricha. Esse empreendimento passou
a pertencer, a partir de 1953, à firma Amaral & Freitas que ampliou o
espaço, mantendo-se, porém, o mesmo padrão, cujo ambiente era bastante
apreciado pela sociedade aracajuana e por intelectuais de todos os matizes
culturais. Cantores famosos, nacionais e estrangeiros, apresentaram-se no
pequeno palco da Boite Cacique Chá, com destaque ao Rei do Bolero, o cantor
espanhol Gregório Barrios, interprete de canções de grande êxito como “Diez
Minutos Mas”, “Besame Mucho”, “Quizas, Quizaz”, “Recuerdo de Ipacarai”, “Vereda
Tropical”, entre outras. Além de Gregório Barrios, outra atração do Cacique Chá, foi
Pedro Vargas, cantor e ator mexicano que alcançou grande sucesso internacional,
sendo reconhecido como o Rouxinol das Américas.
Entre os nacionais, Ângela Maria, Ivon Cury, Nelson Gonçalves, Maísa
Matarazzo e os músicos aracajuanos Antonio Teles e Ximenes, foram os que mais
receberam aplausos da elite sergipana frequentadora do Cacique Chá.
Para esses acontecimentos sociais eram vendidos convites
estilizados com estampas de pontos turísticos de Aracaju, que davam acesso à
Boate, para as mesas com quatro lugares, que, em geral, eram ocupadas por
casais elegantemente trajados, oportunidades em que as mulheres exibiam os seus
esvoaçantes vestidos de cetin ou organza, ou ainda tailleur Chanel, enquanto
que os homens trajavam-se com ternos azuis-marinhos e cinzas, ou com paletós
esportes, os atuais blazers, nas cores escuras para contrastar com as calças,
geralmente alvas. A pista de dança, localizada no meio do salão, era palco dos
casais enamorados exibirem os seus dotes de dançarinos, às vezes aplaudidos
pelos que ficam nas mesas saboreando salgadinhos, croquetes e outros tira
gostos, acompanhados de cervejas Faixa Azul do casco verde, da Antarctica ou
Brahma, do casco escuro, as mais famosas. Outros preferiam beber doses do Whisky White Horse, o tradicional e famoso
Cavalo Branco, um dos mais antigos “blendeds”, a serem consumidos em Aracaju,
ao lado do Old Parr, para paladares mais exigentes. Bebia-se, também, Cuba
Libre, uma mistura do antigo Ron Merino, com Coca-Cola, limão e gelo. O vinho
era pouco consumido, nessa época. As mulheres pouco bebiam e aquelas que se
aventuravam a um “drink” mais forte,
apreciavam o Daiquiri, preparado à base
de Ron branco, açúcar e limão, ingredientes batidos em coqueteleira e servidos
em taças de champagne, com uma cereja na borda. Todo esse glamour do Cacique
Chá sobreviveu ainda nos sessenta do século XX, mas, aos poucos, foi perdendo
as suas características culturais, apesar de ainda sobreviverem algumas
representações desse passado glorioso nas aquarelas pintadas em 1949 por Jenner
Augusto, artista plástico sergipano, que era bastante influenciado pela obra de
Portinari.
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