sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PARQUE TEÓFILO DANTAS

O Parque Teófilo Dantas, ou simplesmente, o Parque, como o aracajuano denomina esse espaço público, construído dentro da Praça Olímpio Campos, numa área de 100 metros de largura, por 200 metros de comprimento, é um dos mais importantes logradouros de Aracaju,  no centro do qual foi construída a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, atual Catedral Metropolitana com o mesmo orago. Sua denominação foi dada pela Resolução número 373, do Conselho Municipal  de Aracaju, datada de 17 de julho de 1928, em homenagem ao Coronel Teófilo Correia Dantas, Intendente (Prefeito) Municipal,  no período  de 1927 até 1930.  
O Parque foi projetado e executado pelo arquiteto e escultor Corinto Mendonça, que introduziu no seu projeto inicial alguns elementos decorativos da antiga Praça de Santa Maria de Belém, no Pará, uma das zonas naturais mais frequentadas pelos habitantes da cidade de Belém. Inaugurada no ano de 1904,  se destaca por sua frondosa vegetação e rica decoração com lagoas, ilhotas e pontes, o que serviu de inspiração para a construção de muitas praças no Brasil.
No Parque Teófilo Dantas foram introduzidos vários elementos decorativos, tipo taba de índios, lago das ninfas, cascata, o rio onde navegavam
barcos infantis, parque zoológico, aquário e parque de diversões,         alamedas e uma iluminação bem atrativa. No decorrer do tempo, oitizeiros, tamarindeiros, jatobás, ipês e uma vasta vegetação de espécimes da Mata Atlântica, decoraram o logradouro, que, também abrigava pássaros exóticos, como faisões, pavões, garças, marrecos e animais da fauna brasileira, como preguiças, cotias, macacos pregos, entre outros, que encantavam a gurizada nos seus passeios dominicais, quando acompanhada dos seus pais, irmãos, tios, avós e amigos, visitavam  os viveiros e reservas naturais cercadas, inclusiva a gruta da Cascatinha, localizada na extremidade noroeste do Parque, na confluência das ruas Capela e Propriá, cuja área era dominada por onças suçuaranas, capturadas nas matas regionais e trazidas para Aracaju.
O Parque era muito organizado, as calçadas do seu entorno eram simétricas, com largura de 2m20cm e revestidas de “trotoir” frisados nas cores de concreto e roxo terra, alternadamente. As áreas eram vigiadas por guardas municipais, que marcavam a presença da autoridade pública, coibindo os excessos sem violências, porém exercendo uma função pedagógica na orientação dos usuários do logradouro publico, para que não danificassem os seus equipamentos.
Outro espaço muito frequentado pelos visitantes do Parque era o  Aquário, onde víamos peixes ornamentais de espécimes regionais e da fauna amazônica, todos com os cuidados de servidores municipais que se envaideciam com o trabalho executado, além de narrarem para os visitantes as origens e nomes científicos dos peixes e plantas expostos. O Aquário, foi desativado na administração do Prefeito José Conrado de Araújo e transformado, em 1966,   na Galeria de Artes Álvaro Santos, na gestão do seu sucessor, o Prefeito Godofredo Diniz Gonçalves, que atendeu aos reclamos dos artistas pictóricos sergipanos, carentes de um espaço cultural, onde pudessem expor os seus trabalhos.   
Na parte central do Parque, os admiradores do Monsenhor Olímpio de Souza Campos  ergueram-lhe uma estátua em 16 de julho de 1916, homenageando-lhe como homem público e como prelado da Igreja Católica Apostólica Romana. Já na confluência com a Travessa Benjamim Constant e Rua Itabaianinha, foi construído o Bar  e Restaurante Cacique Chá, espaço dos mais nobres da cidade na glamorosa década de 1950. Nesses Anos Dourados, realizavam-se banquetes e festas das mais variadas no Cacique Chá, especialmente na gerência do fotógrafo Artur Costa. Este, por motivos de saúde, que foi sucedido por Manoel Felizardo do Nascimento, mais conhecido como Pirricha. Esse empreendimento passou a pertencer, a partir de 1953, à firma Amaral & Freitas que ampliou o espaço, mantendo-se, porém, o mesmo padrão, cujo ambiente era bastante apreciado pela sociedade aracajuana e por intelectuais de todos os matizes culturais. Cantores famosos, nacionais e estrangeiros, apresentaram-se no pequeno palco da Boite Cacique Chá, com destaque ao Rei do Bolero, o cantor espanhol Gregório Barrios, interprete de canções de grande êxito como “Diez Minutos Mas”, “Besame Mucho”, “Quizas, Quizaz”, “Recuerdo de Ipacarai”, “Vereda Tropical”, entre outras. Além de Gregório  Barrios, outra atração do Cacique Chá, foi Pedro Vargas, cantor e ator mexicano que alcançou grande sucesso internacional, sendo reconhecido como o Rouxinol das Américas.  Entre os nacionais, Ângela Maria, Ivon Cury, Nelson Gonçalves, Maísa Matarazzo e os músicos aracajuanos Antonio Teles e Ximenes, foram os que mais receberam aplausos da elite sergipana frequentadora do Cacique Chá.

Para esses acontecimentos sociais eram vendidos convites estilizados com estampas de pontos turísticos de Aracaju, que davam acesso à Boate, para as mesas com quatro lugares, que, em geral, eram ocupadas por casais elegantemente trajados, oportunidades em que as mulheres exibiam os seus esvoaçantes vestidos de cetin ou organza, ou ainda tailleur Chanel, enquanto que os homens trajavam-se com ternos azuis-marinhos e cinzas, ou com paletós esportes, os atuais blazers, nas cores escuras para contrastar com as calças, geralmente alvas. A pista de dança, localizada no meio do salão, era palco dos casais enamorados exibirem os seus dotes de dançarinos, às vezes aplaudidos pelos que ficam nas mesas saboreando salgadinhos, croquetes e outros tira gostos, acompanhados de cervejas Faixa Azul do casco verde, da Antarctica ou Brahma, do casco escuro, as mais famosas. Outros preferiam beber doses do  Whisky White Horse, o tradicional e famoso Cavalo Branco, um dos mais antigos “blendeds”, a serem consumidos em Aracaju, ao lado do Old Parr, para paladares mais exigentes. Bebia-se, também, Cuba Libre, uma mistura do antigo Ron Merino, com Coca-Cola, limão e gelo. O vinho era pouco consumido, nessa época. As mulheres pouco bebiam e aquelas que se aventuravam a um “drink”  mais forte, apreciavam o  Daiquiri, preparado à base de Ron branco, açúcar e limão, ingredientes batidos em coqueteleira e servidos em taças de champagne, com uma cereja na borda. Todo esse glamour do Cacique Chá sobreviveu ainda nos sessenta do século XX, mas, aos poucos, foi perdendo as suas características culturais, apesar de ainda sobreviverem algumas representações desse passado glorioso nas aquarelas pintadas em 1949 por Jenner Augusto, artista plástico sergipano, que era bastante influenciado pela obra de  Portinari.  

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