A Academia Sergipana
de Letras homenageará na sessão de amanhã, 24 de março de 2014, o poeta,
professor, contista, cronista, folclorista, romancista e acadêmico Mário de
Araújo Cabral, reverenciando a sua memória pela passagem dos seus 100 anos, no
próximo dia 26.
Mário Cabral nasceu
em Aracaju Sergipe, a 26 de março de 1914, filho de Antônio Cabral e de D.
Maria de Araújo Cabral. Fez o curso primário no Colégio Antônio Vieira, em
Salvador e o secundário no Atheneu Sergipense.
Bacharelou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Bahia. Foi Promotor
Público, advogado e participou da fundação da Faculdade de Direito de Sergipe e,
também, da Faculdade de Filosofia.
Dirigiu o Sergipe Jornal e fundou e dirigiu a Revista
de Aracaju.
Eleito a 2 de Julho de 1940, tomou posse na Academia Sergipana de Letras no dia
13 de setembro de 1941, na Cadeira nº 17, sucedendo ao escritor Manoel dos
Passos Oliveira Teles. Colaborou com todos os jornais da cidade. Conquistou o
Primeiro Prêmio no Concurso Nacional de Contos Moura Brasil, com o trabalho
intitulado Superstição. A partir de 1955 transferiu a sua residência
para Salvador. Dirigiu o Diário da Bahia, escreveu para o Diário
de Notícias,
Estado da Bahia,
Jornal da Bahia
e A Tarde.
Publicou artigos em vários jornais do Norte e do Sul do país, como também do
exterior, Chile, Peru e USA, Journal of Latin American Lore. Dirigiu o
Teatro Castro Alves, em Salvador. Foi consultor Jurídico do Estado da Bahia, fez
parte do Instituto Histórico da Bahia, da Associação Sergipana de Imprensa e daAssociação
Brasileira de Escritores. Realizou viagens de estudos a Roma, Veneza, Sorrento,
Madrid, Paris e Lisboa.
Mário Cabral
experimentou todos os gêneros literários, mas foi na condição de cronista da
cidade de Aracaju, que ele sedimentou a sua escrita, registrando a sua história
social, a literatura, a arte, a vida noturna, os clubes e as festas
aracajuanas. Além disso, foi um crítico literário, reconhecido nacionalmente. Faleceu
em Salvador, Bahia, em 2 de abril de 2009.
No campo da poesia,
publicou, em 1934, o soneto Jangada,
no jornal O Estado de Sergipe, seguindo-se depois à publicação de artigos e conferências,
nos jornais de Aracaju e palestras, tanto no Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe, como na Academia Sergipana de Letras. As críticas literárias foram
reunidas no livro Caderno de crítica,
cuja primeira edição data de 1944. Em Roteiro
de Aracaju, publicado em 1948, reeditado em 1955 e em 2002, Mário Cabral
escreve uma crônica sobre a cidade, seccionada em várias outras crônicas onde o
autor retrata com uma perfeição estilística, entre a prosa e a poesia, imagens
indeléveis da cidade, levando o leitor a um passeio na Aracaju provinciana,
deslumbrando-se com o seu casario, as suas ruas, praças e avenidas, com a
beleza dos seus recantos bucólicos, iluminada desde o arrebol até o crepúsculo,
com uma luz solar vibrante, que, na apreciação do cronista enche de cintilações
a copa do coqueiral, desliza sobre a água clara do rio, joga um manto de luz
sobre as ondas do mar, envolve em um amplexo luminoso as casas e as igrejas, as
ruas e as praças, os morros e as praias.
No seu ensaio, O Folclore Infantil na Cidade de Aracaju,
publicado em 1951, na Revista de Aracaju, durante as comemorações do Centenário de Nascimento de Silvio Romero, patrono da Cadeira número 2, da Academia
Sergipana de Letras e fundador da Cadeira número 17, da Academia Brasileira de
Letras, o primeiro escritor brasileiro a desenvolver pesquisas no campo do folclore, sob o ponto
de vista científico. Este mesmo ensaio compôs o volume de Crítica e Folclore, publicado em 1952, onde Mário Cabral se
debruçou sobre as manifestações da cultura popular, estudando a produção
artística e cultural do povo, as suas danças as suas tradições afro brasileiras e o lúdico das
crianças aracajuanas.
A contribuição de
Mário Cabral para a Literatura Brasileira ressalta a sua importância, não só
pelos temas abordados nos diversos livros, como pelo teor filosófico da sua
escrita e na musicalidade da sua poesia.
O livro Cidade morta, publicado em 1954, reúne os poemas criados na sua
juventude, onde Mário Cabral escreveu versos do primeiro amor, das primeiras
saudades, dos primeiros sonhos dúvidas e receios. Da poesia, para o romance de
ficção, com inserções memorialistas, o autor homenageado, publica Caminho da solidão, em 1962, romance
profundamente humano, repleto de encanto e de magia.
Em Espelho do tempo, livro publicado 1973
e reeditado em 1975, Mário Cabral, traz ao leitor um livro de memórias, em que
ele reflete sobre a vida e sobre as coisas que lhe envolveram e lhe
influenciaram através do tempo. É um livro fascinante, seja pela técnica, pelo
estilo, pela franqueza, pelo humor, pelo sentimento e pela veracidade das suas
afirmações, que prendem o leitor até a
última página. Nesse mesmo ano, surge o livro Juízo final, publicado 1979, em que ele enfeixa uma coroa de
sonetos fortes e trágicos, por vezes apocalípticos, em uma sucessão de quadro
desconexos, que o poeta encerra um tema de ordem pacifista, sem cuja vitória
integral e absoluta o mundo resvalará para o caminho inevitável da sua
autodestruição.
O autor homenageado publicava,
em 1995, outro monumento literário, com o título Aracaju bye bye, um livro de contos, que tem Aracaju como palco,
pois o seu autor, apesar de distante, não esqueceu a cidade, nem o seu povo.
A obra de Mário
Cabral, no campo da crítica literária se encerra com a publicação de Jornal da noite, editado em 1997 e na
poesia, com sete poemas terminais, onde marca a sua maturidade poética,
abraçando a composição do soneto, uma das formas mais difíceis para a
construção de poemas.
A obra literária de Mário Cabral que se apresenta
multifacetada merece o reverenciamento do povo sergipano,
não só pelas suas referências e encantos a Aracaju, como pela solidez dos seus
conceitos, expressados nos seus livros, nas suas conferências e no seu estro
poético.
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