sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

CENTENÁRIO DE MÁRIO CABRAL

A Academia Sergipana de Letras homenageará na sessão de amanhã, 24 de março de 2014, o poeta, professor, contista, cronista, folclorista, romancista e acadêmico Mário de Araújo Cabral, reverenciando a sua memória pela passagem dos seus 100 anos, no próximo dia 26.

Mário Cabral nasceu em Aracaju Sergipe, a 26 de março de 1914, filho de Antônio Cabral e de D. Maria de Araújo Cabral. Fez o curso primário no Colégio Antônio Vieira, em Salvador e o secundário no Atheneu Sergipense.  Bacharelou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Bahia. Foi Promotor Público, advogado e participou da fundação da Faculdade de Direito de Sergipe e, também,  da Faculdade de Filosofia. Dirigiu o Sergipe Jornal e fundou e dirigiu a Revista de Aracaju. Eleito a 2 de Julho de 1940, tomou posse na Academia Sergipana de Letras no dia 13 de setembro de 1941, na Cadeira nº 17, sucedendo ao escritor Manoel dos Passos Oliveira Teles. Colaborou com todos os jornais da cidade. Conquistou o Primeiro Prêmio no Concurso Nacional de Contos Moura Brasil, com o trabalho intitulado Superstição. A partir de 1955 transferiu a sua residência para Salvador. Dirigiu o Diário da Bahia, escreveu para o Diário de Notícias, Estado da Bahia, Jornal da Bahia e A Tarde. Publicou artigos em vários jornais do Norte e do Sul do país, como também do exterior, Chile, Peru e USA, Journal of Latin American Lore. Dirigiu o Teatro Castro Alves, em Salvador. Foi consultor Jurídico do Estado da Bahia, fez parte do Instituto Histórico da Bahia, da Associação Sergipana de Imprensa e daAssociação Brasileira de Escritores. Realizou viagens de estudos a Roma, Veneza, Sorrento, Madrid, Paris e Lisboa.
Mário Cabral experimentou todos os gêneros literários, mas foi na condição de cronista da cidade de Aracaju, que ele sedimentou a sua escrita, registrando a sua história social, a literatura, a arte, a vida noturna, os clubes e as festas aracajuanas. Além disso, foi um crítico literário, reconhecido nacionalmente. Faleceu em Salvador, Bahia, em 2 de abril de 2009.
No campo da poesia, publicou, em 1934, o soneto Jangada, no jornal O Estado de Sergipe, seguindo-se depois à publicação de artigos e conferências, nos jornais de Aracaju e palestras, tanto no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, como na Academia Sergipana de Letras. As críticas literárias foram reunidas no livro Caderno de crítica, cuja primeira edição data de 1944. Em Roteiro de Aracaju, publicado em 1948, reeditado em 1955 e em 2002, Mário Cabral escreve uma crônica sobre a cidade, seccionada em várias outras crônicas onde o autor retrata com uma perfeição estilística, entre a prosa e a poesia, imagens indeléveis da cidade, levando o leitor a um passeio na Aracaju provinciana, deslumbrando-se com o seu casario, as suas ruas, praças e avenidas, com a beleza dos seus recantos bucólicos, iluminada desde o arrebol até o crepúsculo, com uma luz solar vibrante, que, na apreciação do cronista enche de cintilações a copa do coqueiral, desliza sobre a água clara do rio, joga um manto de luz sobre as ondas do mar, envolve em um amplexo luminoso as casas e as igrejas, as ruas e as praças, os morros e as praias.
No seu ensaio, O Folclore Infantil na Cidade de Aracaju, publicado em 1951, na Revista de Aracaju, durante as comemorações do  Centenário de Nascimento de Silvio Romero,  patrono da Cadeira número 2, da Academia Sergipana de Letras e fundador da Cadeira número 17, da Academia Brasileira de Letras, o primeiro escritor brasileiro a desenvolver  pesquisas no campo do folclore, sob o ponto de vista científico. Este mesmo ensaio compôs o volume de Crítica e Folclore, publicado em 1952, onde Mário Cabral se debruçou sobre as manifestações da cultura popular, estudando a produção artística e cultural do povo, as suas danças as suas  tradições afro brasileiras e o lúdico das crianças aracajuanas.
A contribuição de Mário Cabral para a Literatura Brasileira ressalta a sua importância, não só pelos temas abordados nos diversos livros, como pelo teor filosófico da sua escrita e na musicalidade da sua poesia.
O livro Cidade morta, publicado em 1954, reúne os poemas criados na sua juventude, onde Mário Cabral escreveu versos do primeiro amor, das primeiras saudades, dos primeiros sonhos dúvidas e receios. Da poesia, para o romance de ficção, com inserções memorialistas, o autor homenageado, publica Caminho da solidão, em 1962, romance profundamente humano, repleto de encanto e de magia.
Em Espelho do tempo, livro publicado 1973 e reeditado em 1975, Mário Cabral, traz ao leitor um livro de memórias, em que ele reflete sobre a vida e sobre as coisas que lhe envolveram e lhe influenciaram através do tempo. É um livro fascinante, seja pela técnica, pelo estilo, pela franqueza, pelo humor, pelo sentimento e pela veracidade das suas afirmações, que  prendem o leitor até a última página. Nesse mesmo ano, surge o livro Juízo final,  publicado 1979, em que ele enfeixa uma coroa de sonetos fortes e trágicos, por vezes apocalípticos, em uma sucessão de quadro desconexos, que o poeta encerra um tema de ordem pacifista, sem cuja vitória integral e absoluta o mundo resvalará para o caminho inevitável da sua autodestruição.
O autor homenageado publicava, em 1995, outro monumento literário, com o título Aracaju bye bye, um livro de contos, que tem Aracaju como palco, pois o seu autor, apesar de distante, não esqueceu a cidade, nem o seu povo.
A obra de Mário Cabral, no campo da crítica literária se encerra com a publicação de Jornal da noite, editado em 1997 e na poesia, com sete poemas terminais, onde marca a sua maturidade poética, abraçando a composição do soneto, uma das formas mais difíceis para a construção de poemas.
A obra literária de Mário Cabral que se apresenta multifacetada merece o reverenciamento do povo sergipano, não só pelas suas referências e encantos a Aracaju, como pela solidez dos seus conceitos, expressados nos seus livros, nas suas conferências e no seu estro poético. 

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