A Feirinha de Natal realizada no Parque até os anos de 1980 era
o maior acontecimento social da cidade no ciclo natalino, em especial para a
criançada. Nessa época, criança ainda era criança, com as suas fantasias infantis
e os seus brinquedos lúdicos, que eram
vendidos por ambulantes, tipo carrinhos de madeira, kits de música, ratinhos de
papel que corriam sobre carretéis de cerâmica, bonecas, fantoches, petecas,
entre outros, que estimulavam a educação infantil. As comidas e guloseimas eram
artesanais, típicas e caseiras, poucos eram os alimentos industrializados, ali
vendidos. Os refrigerantes produzidos em
Aracaju, Jade, Gasosa, Amorosa, Tubaína, foram, aos poucos, substituídos por marcas internacionais e
nacionais, tipo Coca-Cola, na garrafinha e de 185 mililitros, Guaraná Caçula,
da Antarctica, surgida em 1950, também, na garrafinha de 185 mililitros, Crush,
no sabor laranja, Grapette, Fratelli Vita, nos sabores guaraná, limão e laranja, e Guaraná da Brahma, que passaram a dominar o
mercado consumidor aracajuano.
Nessa época, a pavimentação do Parque ainda era primária,
empiçarrada, o que ocasionava poeira no verão e, lama quando chovia, causando
transtornos para as donas de casa, na lavagem das roupas de seus filhos,
geralmente de linho branco e das meninas, que vestiam roupinhas em tecidos
leves, azuis e outros tons alvos. O jeans ainda não havia invadido o vestuário,
e o traje das pessoas eram tradicionais. Os homens fossem ricos, remediados ou
pobres, trajavam-se com paletós e gravatas e as mulheres sempre elegantes,
algumas se vestiam, exageradamente, a que o povo, na sua ironia, dizia que elas estavam enfeitadas, parodiando
Balzac, em uma das suas célebres frases, ao dizer que as elegantes vestiam-se e
as ricas enfeitavam-se.
Todo esse burburinho de fim de tarde até oito a nove horas da noite, durante os dias das
semanas natalinas, ou, até mais tarde no final de semana, só era interrompido
por ocasião dos ofícios religiosos, realizados na Catedral Nossa Senhora da
Conceição, quando tudo parava de funcionar, principalmente durante a celebração
da Missa do Galo, celebrada na Véspera de Natal, que começava, invariavelmente, à meia noite de
24 para 25 de Dezembro, em atenção aos
pedidos do Monsenhor Olívio Teixeira, durante o período de 1949 a 1957, quando
esteve à frente da Paróquia.
Esses anos glamorosos da
Feirinha de Natal, no Parque Teófilo Dantas, foram decaindo na proporção em que
foram decaindo, também, festejos populares
em torno do Natal, no centro da cidade, bem assim ao surgimento de outros
espaços públicos e à própria transformação da festa natalina, que passou a
exigir um maior congraçamento das famílias em suas residências, em torno da
Ceia do Natal. Outro fator dessa mudança dos festejos natalinos está ligado ao
consumo, devido à influência do mercado
de produtos natalinos desencadeada pelos norte americanos no Brasil,
principalmente a partir da década de
1960, quando a propaganda em torno do Papai Noel, começou a ser mais evidente. Associado a isso, outros
fatores como a falta de segurança, a desmotivação do povo, o surgimento de
parques de diversões com novos equipamentos de lazer e o aparecimento dos
shoppings, fizeram com que a tradicional Feirinha de Natal deixasse de
acontecer no Parque Teófilo Dantas.
JOSÉ
ANDERSON NASCIMENTO
MEMORIALISTA.
JORNALISTA.
PRESIDENTE DA
ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS